sábado, setembro 02, 2006

MÉTODO CIENTÍFICO E LOGANÁLISE: PLANO DO CURSO

Primeiro Módulo

Plano do Módulo (baixe aqui arquivo em PDF)

Síntese do módulo:
Descrevemos o objetivo da cadeira e relacionamo-lo com o objetivo maior de que, no que diz respeito à validação de hipóteses e teorias, evitemos tanto o autoritarismo, quanto o caos; definimos o objetivo de nossa produção teórica; definimos os conceitos de técnica, tecnologia, mostrando em que essa é superior àquela; definimos método e método científico, mostrando o compromisso deste último com o princípio de não-contradição; definimos metateoria, conotação e denotação; propusemos uma hipótese sobre como se faz a gênese psicológica de um conceito; distinguimos definiendum de definiens e oferecemos critérios para avaliar a qualidade de um conceito; distinguimos definir de conceituar, sendo assistidos, para isso, pelo esclarecimento do que são proposições analíticas, proposições sintéticas, ciências factuais, ciências formais e condição salva veritate, apontado, a partir daí, a inadequação de expressões como definição operacional e definição ostensiva (ad modum ponens), e, sugerindo, com Rudner, a substituição dessas expressões, respectivamente, pelas de transmissão operacional de significado e transmissão ostensiva (ad modum ponens) de significado ; terminamos indicando como, por ser gradual e tentativo o processo através de que uma teoria alcança a padronização do uso dos termos que a constituem, cumpre manter sempre em vista o status conceitual de seus mais relevantes termos.
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Segundo Módulo
Síntese do módulo:
Conceitua-se entidade lingüística e extra-lingüística, referência, referente e referido; distinguem-se os entes de realidade dos entes de razão e, entre esses últimos, caracterizam-se as idealizações, assinalando-se a função eminentemente heurística dessas últimas e sub-classificando-as em idealizações intuitivas e idealizações teóricas; aponta-se que para que saúde mental seja adequadamente definida deve sê-lo como uma idealização; define-se númeno, reconhecendo-se que, embora seja esse conceito uma referência inescapável, ele não tem lugar dentro de uma teoria científica; definem-se entidade observacional, entidade inferida, essa última mediante a introdução do conceito de regra de correspondência; ilustra-se o poder heurístico das entidades inferidas empregando os conceito de conversão, repressão, indicadores de fratura, fixação, transferência, meta-transferência etc; aponta-se a instabilidade do status inferencial de um ente real e, para terminar, é estabelecida uma classificação dos níveis de atividade cognitiva.
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Terceiro Módulo

Síntese do módulo:
Indica-se que, para a construção de uma tecnologia psicoterápica de promoção da saúde mental, cumpre construir-se uma teoria capaz de, pelo menos, dois tipos de afirmação, quais sejam, “processos de comunicação de tipo X promovem saúde mental no ser humano” e “processos de comunicação de tipo Y promovem doença mental no ser humano”; argumenta-se que a posse de tais tipos de proposição implica existência de determinismo; definem-se explicação, explanandum, explanans, axioma, postulado, hipótese, lei, lei empírica, lei experimental, lei teórica; expõem-se as relações entre explicação e previsão; definem-se argumento projetivo-preditivo, projetivo-retroditivo e projetivo-simultâneo; discute-se a natureza e validade metodológica do Verstehen; traz-se à balila a afirmação de Rudner de que a ignorância substantiva é menos grave do que a metodológica; define-se teleologia, acompanhando a definição de Ducasse, e propõe-se o conceito de “explicação compreensiva”, distinguindo dois sub-tipos dentre elas; reve-se e critica-se a classificação das ciências feita por Durkheim; define-se determinismo e indica-se a diferença entre determinismo absoluto e determinismo estatístico; discutem-se os fundamentos do pressuposto determinista; define-se causa; afirma-se não haver incompatibilidade entre determinismo e liberdade de arbítrio; apresenta-se o Princípio de Economia (Navalha de Occam); indicam-se os três critérios básicos para avaliação da qualidade de uma teoria e a metateoria mínima do que seja a Psicanálise.
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sábado, agosto 26, 2006

MÉTODO CIENTÍFICO E LOGANÁLISE: SUMÁRIO

Primeiro Módulo

Plano do módulo

1. Objetivos
1.1. Testabilidade intersubjetiva
1.2. Clareza de discurso
1.3. Clareza de pensamento
1.4. Clareza de objetivos: desenvolver tecnologia que promova, profilaxia e terapeuticamente, a saúde mental.
1.5. Técnica e de tecnologia
1.5.1. Definições
1.5.2. Ilustração
1.5.3. Vantagens e desvantagens comparativas
1.5.4. Os procedimentos psicanalíticos de promoção da saúde mental:
1.5.4.1. A deficiente evolução
1.5.4.2. O tipo de transmissão
2. O conceito de método:
2.1. Método e técnica
2.2. Método científicos e não científicos: o princípio de não-contradição
3. A validação teórica:
3.1. Metateoria
3.2. A transmissão de significado
3.2.1. Conotação e denotação
3.2.2. A gênese psicológica de um conceito
3.2.2.1. As etapas: descrição
3.2.2.1.1. Proto-conotação
3.2.2.1.2. Proto-denotação
3.2.2.1.3. Conotação
3.2.2.1.4. Denotação
3.2.2.2. As etapas: ilustração
3.2.2.2.1. Proto-conotação
3.2.2.2.2. Proto-denotação
3.2.2.2.3. Conotação
3.2.2.2.4. Denotação
3.2.3. Definiendum e definiens
3.2.4. Critérios de validação de conceitos
3.2.4.1. Descrição dos critérios
3.2.4.1.1. Conformidade com o uso
3.2.4.1.2. Adequação ao fim
3.2.4.2. Operação com os critérios
3.2.5. Definir e conceituar:
3.2.5.1. Ciências:
3.2.5.1.1. Formais: estipular e fiscalizar coerência lógica;
3.2.5.1.2. Factuais: hipotetizar, fiscalizar coerência lógica e verificar coerência empírica;
3.2.5.2. Proposições analíticas e proposições sintéticas
3.2.5.2.1. Conceituação
3.2.5.2.2. Ilustração: e = mc²
3.2.5.3. A condição salva veritate
3.2.5.3.1. Enunciação
3.2.5.3.2. Ilustração
3.2.5.4. Transmissão de significado como condição para a existência de definição:
3.2.5.4.1. Não é necessária
3.2.5.4.2. Não é suficiente
3.2.5.5. “Definições” operacionais e ostensivas:
3.2.5.5.1. Conceituação
3.2.5.5.2. Crítica
3.2.5.5.3. Redenominação
3.2.5.6. Um alerta: a aproximação gradual e tentativa
3.2.5.6.1. A consciência do status conceitual
3.2.5.6.2. A definição conceitual como ponto-de-fuga

Definienda abordados[1]: ciência factual – ciência formal – condição salva veritate – conotação – definição – "definição operacional" – "definição ostensiva" (ad modum ponens) – definiendum – definiens – denotação – metateoria – método – método científico – princípio de não-contradição – proposição analítica – proposição sintética – técnica – tecnologia – transmissão operacional de significado – transmissão ostensiva (ad modum ponens) de significado.

Síntese do módulo: Descrevemos o objetivo da cadeira e relacionamo-lo com o objetivo maior de que, no que diz respeito à validação de hipóteses e teorias, evitemos tanto o autoritarismo, quanto o caos; definimos o objetivo de nossa produção teórica; definimos os conceitos de técnica, tecnologia, mostrando em que essa é superior àquela; definimos método e método científico, mostrando o compromisso deste último com o princípio de não-contradição; definimos metateoria, conotação e denotação; propusemos uma hipótese sobre como se faz a gênese psicológica de um conceito; distinguimos definiendum de definiens e oferecemos critérios para avaliar a qualidade de um conceito; distinguimos definir de conceituar, sendo assistidos, para isso, pelo esclarecimento do que são proposições analíticas, proposições sintéticas, ciências factuais, ciências formais e condição salva veritate, apontado, a partir daí, a inadequação de expressões como definição operacional e definição ostensiva (ad modum ponens), e, sugerindo, com Rudner, a substituição dessas expressões, respectivamente, pelas de transmissão operacional de significado e transmissão ostensiva (ad modum ponens) de significado ; terminamos indicando como, por ser gradual e tentativo o processo através de que uma teoria alcança a padronização do uso dos termos que a constituem, cumpre manter sempre em vista o status conceitual de seus mais relevantes termos.

Segundo Módulo

Plano do módulo

1. O lingüístico e o extra-lingüístico:
1.1. Glossário:
1.1.1. Entidade extra-lingüística
1.1.2. Entidade lingüística
1.1.3. Referência
1.1.4. Referente
1.1.5. Referido
1.2. Ciências factuais e as condições de passagem do lingüístico para o extra-lingüístico
1.2.1. Condição para a gestação de tecnologia
1.2.2. Qual a porção do extra-lingüístico a que ser refere o discurso das ciências factuais?
2. As entidades extras-lingüísticas:
2.1. Os entes de realidade e entes de razão
2.1.1. Glossário
2.1.1.1. Entes de razão
2.1.1.2. Entes de realidade
2.2. Entes de razão: as idealizações
2.2.1. Glossário: idealização
2.2.2. Utilidade heurística (Rudner, Chisholm, Ebraico)
2.2.3. Tipos: intuitivas e teóricas (Hempel)
2.2.3.1. Características
2.2.3.1.1. Metrificação
2.2.3.1.2. Dedução matemática
2.2.3.1.3. Inclusão em corpo teórico
2.2.3.2. Glossário:
2.2.3.2.1. Idealização intuitiva
2.2.3.2.2. Idealização teórica
2.2.3.3. Exemplo: gás ideal
2.2.4. A posição da Loganálise
2.3. Os entes reais
2.3.1. O(s) númeno(s)
2.3.1.1. A ampliação da literatura consultada
2.3.1.2. Von Uexküll
2.3.1.3. O(s) númeno(s) como uma exigência de coerência intelectual
2.3.1.4. O(s) númeno(s) como incapaz(es) de assistir na inferência de transformações específicas em segmentos específicos do extra-lingüístico
2.3.2. Entidades inferidas e entidades observacionais
2.3.2.1. Confusão e opção terminológica
2.3.2.2. Entidades observacionais:
2.3.2.2.1. Definição de Russell
2.3.2.2.2. Exemplo: distúrbio de motilidade
2.3.2.3. Conversão:
2.3.2.3.1. Linguagem frouxa: distúrbio de motilidade distinguido equacionado a conversão
2.3.2.3.2. Linguagem precisa: distúrbio de motilidade entendido como um componente observável do processo chamado conversão, que inclui inobserváveis
2.3.2.3.3. Regra de correspondência
2.3.2.3.3.1. Definição
2.3.2.3.3.2. Exemplo
2.3.2.4. Glossário:
2.3.2.4.1. entidade inferida
2.3.2.4.2. entidade observacional
2.3.2.4.3. númeno
2.3.2.4.4. regra de correspondência
2.3.2.5. A postura positivista e a pretensão de expulsar a entidade inferida do âmbito das ciências factuais
2.3.2.5.1. A confusão entre númenos e entidade inferidas
2.3.2.5.2. Russell, o behaviorismo, o cego e o surdo
2.3.2.5.3. O potencial preditivo das entidades inferidas:
2.3.2.5.3.1. Benjamin: o elemento inferencial é exatamente o que permite a inferência
2.3.2.5.3.2. Exemplo:
2.3.2.5.3.2.1. Distúrbio motor Þ conversão Þ recalque Þ insuficiente investimento energético na representação de palavra e excessivo investimento energético na correspondente representação de coisa Þ bloqueios da verbalização, indicadores de fratura, de fixação, de transferência, de meta-transferência, de disforias, de deficits de racionalidade e de arbítrio, etc.
2.3.2.5.4. A estabilidade relativa do status de entidade inferida e a recomendação de Beck
2.3.2.5.4.1. Lesão de quiasma ótico
2.3.2.5.4.2. Íon
2.3.2.5.4.3. Lua
3. Os níveis de atividade cognitiva
3.1. Nível Lingüístico: símbolos
3.2. Nível Extra-lingüístico
3.2.1. Nível científico-factual
3.2.1.1. Entes reais
3.2.1.1.1. Entidades observacionais
3.2.1.1.2. Entidades inferidas
3.2.1.2. Entes de razão: idealizações
3.2.2. Nível Ontológico
3.2.2.1. Entes reais: númeno(s)
3.2.2.2. Entes de razão: idealizações

Definienda abordados: entes de razão – entes de realidade – entidade extra-lingüística – entidade inferida – entidade lingüística – entidade observacional – idealizações – idealização intuitivas – idealizações teóricas – númeno – referência – referente – referido– regra de correspondência.

Súmula: Conceitua-se entidade lingüística e extra-lingüística, referência, referente e referido; distinguem-se os entes de realidade dos entes de razão e, entre esses últimos, caracterizam-se as idealizações, assinalando-se a função eminentemente heurística dessas últimas e sub-classificando-as em idealizações intuitivas e idealizações teóricas; aponta-se que para que saúde mental seja adequadamente definida deve sê-lo como uma idealização; define-se númeno, reconhecendo-se que, embora seja esse conceito uma referência inescapável, ele não tem lugar dentro de uma teoria científica; definem-se entidade observacional, entidade inferida, essa última mediante a introdução do conceito de regra de correspondência; ilustra-se o poder heurístico das entidades inferidas empregando os conceito de conversão, repressão, indicadores de fratura, fixação, transferência, meta-transferência etc; aponta-se a instabilidade do status inferencial de um ente real e, para terminar, é estabelecida uma classificação dos níveis de atividade cognitiva.

Terceiro Módulo

Plano do módulo

1. Revisão de Percurso:
1.1. Tecnologia depende de teoria
1.2. Adequada construção teórica depende de clareza metateórica: a metateoria mínima
1.2.1. Clareza das regras de passagem do lingüístico para o extra-lingüístico
1.2.1.1. Natureza dos instrumentos
1.2.1.1.1. Definitórios
1.2.1.1.2. De transmissão de significado
1.2.1.2. Natureza dos referidos
1.2.1.2.1. Entes reais
1.2.1.2.1.1. Entidades observacionais
1.2.1.2.1.2. Entidades inferidas
1.2.1.2.2. Entes de razão: idealizações
1.2.2. Coerência:
1.2.2.1. Lógica
1.2.2.2. Empírica
2. A teoria mínima
2.1. Processos de comunicação que promovem saúde
2.2. Processos de comunicação que promovem doença
3. Teoria - inferência - construção da tecnologia
4. Inferência - determinismo - perda de arbítrio?
4.1. Inferência, explicação e lei
4.1.1. O formato lógico de uma explicação
4.1.1.1. Explicação de fenômenos
4.1.1.2. Explicação de leis
4.1.2. Ciência como uma integração de leis teóricas e empíricas
4.1.3. Glossário parcial:
4.1.3.1. Axioma
4.1.3.2. Explanandum
4.1.3.3. Explanans
4.1.3.4. Explicação
4.1.3.5. Hipótese
4.1.3.6. Lei
4.1.3.7. Lei empírica
4.1.3.8. Lei experimental
4.1.3.9. Lei teórica
4.1.3.10. Postulado
4.1.3.11. Teoria
4.1.4. Níveis de explicação
4.1.4.1. Leis teóricas Û leis empíricas Û descrição de fenômenos intersubjetivamente observáveis
4.1.5. Identidade da estrutura lógica inferência-explicação
4.1.6. Proposições projetivas (ou prospectivas)
4.1.6.1. Preditivas
4.1.6.2. Retroditivas
4.1.6.3. Simultâneas
4.1.7. Glossário parcial:
4.1.7.1. Inferência
4.1.7.2. Argumento projetivo
4.1.7.3. Argumento projetivo-retroditivo
4.1.7.4. Argumento projetivo-preditivo
4.1.7.5. Argumento projetivo-simultâneo
4.2. Conclusão: se a Loganálise, por objetivar construir uma tecnologia, precisa de uma teoria que permita inferir, ela tem, necessariamente, que ser explicativa.
4.3. O Grupo do Verstehen: a insistência de que as ciências humanas não podem ser explicativas.
4.3.1. Não há descrição do método
4.3.2. A classificação de Dilthey
4.3.2.1. Naturwissenschaften: explicação
4.3.2.2. Geisteswissenschaften: compreensão
4.3.3. Nossas teses
4.3.3.1. O Verstehen não passa de uma técnica particular de obtenção de dados via suposto da empatia
4.3.3.2. A conseqüência de se colocar uma técnica na posição de um método é a perda de um critério intersubjetivo de validação de proposições
4.3.4. Rudner: ignorância substantiva e ignorância metodológica
4.3.5. A explicação compreensiva:
4.3.5.1. Ducasse: definição de teleologia
4.3.5.2. LC:
4.3.5.2.1. Explicação compreensiva: tipo I
4.3.5.2.2. Explicação compreensiva: tipo II
4.3.5.3. O suposto da empatia: uma regra de correspondência subtraída à fiscalização
4.4. As ciências humanas como um subconjunto das ciências naturais
4.5. O problema do determinismo
4.5.1. Determinismo e explicação: Loganálise necessariamente determinista
4.5.1.1. Determinismo: Extensão e fundamento
4.5.1.1.1. Tipos
4.5.1.1.1.1. Absoluto
4.5.1.1.1.2. Relativo
4.5.1.1.2. Tipos de determinismo e inferência
4.5.1.1.3. O pressuposto determinista: fundamentos
4.5.1.1.3.1. Lógico:
4.5.1.1.3.1.1. Indutiva
4.5.1.1.3.1.2. Dedutiva
4.5.1.1.3.2. Psicológico: grau de sucesso e grau de certeza.
4.5.1.2. Determinismo e causalidade
4.5.1.2.1. Definição de relação causal
4.5.1.2.2. Distinção entre determinação e causalidade
4.5.1.3. Determinismo e teleologia: compatibilidade
5. A navalha de Occam
5.1. Abbagnano: definição
5.2. A superioridade da Psa
6. As características metateóricas da Loganálise
7. Loganálise: uma ciência determinista a serviço da liberdade de arbítrio.

Definienda abordados: argumento projetivo-preditivo - argumento projetivo-retroditivo - argumento projetivo-simultâneo -axioma - dedução - explanandum - explanans - determinismo - determinismo relativo - determinismo absoluto - explicação - explicação compreensiva (tipo I e tipo II) - Geisteswissenschaften - hipótese - ignorância substantiva - ignorância metodológica - indução - inferência - lei - lei empírica - lei experimental - lei teórica - Naturwissenschaften - Navalha de Occam - postulado - pressuposto da empatia - relação causal - teleologia (Ducasse) - teoria - Verstehen -

Síntese do módulo: Indica-se que, para a construção de uma tecnologia psicoterápica de promoção da saúde mental, cumpre construir-se uma teoria capaz de, pelo menos, dois tipos de afirmação, quais sejam, “processos de comunicação de tipo X promovem saúde mental no ser humano” e “processos de comunicação de tipo Y promovem doença mental no ser humano”; argumenta-se que a posse de tais tipos de proposição implica existência de determinismo; definem-se explicação, explanandum, explanans, axioma, postulado, hipótese, lei, lei empírica, lei experimental, lei teórica; expõem-se as relações entre explicação e previsão; definem-se argumento projetivo-preditivo, projetivo-retroditivo e projetivo-simultâneo; discute-se a natureza e validade metodológica do Verstehen; traz-se à balila a afirmação de Rudner de que a ignorância substantiva é menos grave do que a metodológica; define-se teleologia, acompanhando a definição de Ducasse, e propõe-se o conceito de “explicação compreensiva”, distinguindo dois sub-tipos dentre elas; reve-se e critica-se a classificação das ciências feita por Durkheim; define-se determinismo e indica-se a diferença entre determinismo absoluto e determinismo estatístico; discutem-se os fundamentos do pressuposto determinista; define-se causa; afirma-se não haver incompatibilidade entre determinismo e liberdade de arbítrio; apresenta-se o Princípio de Economia (Navalha de Occam); indicam-se os três critérios básicos para avaliação da qualidade de uma teoria e a metateoria mínima do que seja a Psicanálise.

[1] Sempre em ordem alfabética.

quarta-feira, agosto 02, 2006

MÉTODO CIENTÍFICO E LOGANÁLISE: QUESTÕES SOBRE O CONTEÚDO DOS MÓDULOS

Módulo I:
Qual o propósito de tentarmos explicitar nossa Constituição Epistemológica? Qual o objetivo que propusemos para nossa produção científica? Método científico é o mesmo que metateoria? A metapsicologia freudiana é uma metateoria? Que é princípio de não-contradição? Qual a diferença entre técnica e tecnologia e qual a vantagem de uma sobre outra? Qual a diferença entre técnica definida em um sentido lato e técnica definida em um sentido estrito? E entre método e técnica? E entre método e método científico? E entre denotação e conotação? Como conotação e denotação se relacionam na gênese de um conceito? Sempre que eu defino, eu conceituo? Qual o único tipo de significante passível de denotação, mas, nunca, de conotação? Qual a diferença entre uma proposição analítica e uma proposição sintética? Qual a diferença entre uma proposição analítica conceitual e uma proposição analítica não conceitual? Dê exemplos. E entre ciência factual e ciência formal? Dê exemplos. Por que as expressões “definição operacional” e “definição ostensiva” são pouco apropriadas?

Módulo II:
Defina referência, referente, referido, entidade lingüística e entidade extra-lingüística. Qual a relevância da existência de regras claras para disciplinar a passagem do lingüístico para o extra-lingüístico para com a produção de tecnologia? Que é ente de realidade? Que é ente de razão? Qual dentre esses dois tipos de ente exerce, numa teoria, uma função eminentemente heurística? O que é isso? O que é idealização? Quais as características que distinguem uma idealização intuitiva de uma idealização teórica? Dê um exemplo de idealização entre as ciências teleológicas – usualmente chamadas de “sociais” – e as não-teleológicas – usualmente chamadas de “naturais”. Dê um exemplo de idealização utilizado pela Loganálise. Descreva sucintamente o resultado do trabalho de von Uexküll e mostre como ele nos leva a reconhecer o númeno como uma inferência inescapável. Por que o númeno não tem função dentro de uma teoria científica? Defina entidade observacional e exemplifique. Defina entidade inferida e exemplifique. Defina regra de correspondência e exemplifique. Defina númeno. Qual a impropriedade de afirmarmos que um distúrbio de motilidade “é uma conversão”? Haveria a mesma impropriedade em afirmar que ele “é um sintoma conversivo”? Qual a crítica da Loganálise relativamente a postura positivista relativamente às entidades inferidas? Dê um exemplo que revele o potencial heurístico das entidades inferidas. Por que é instável o status inferencial de um ente real? Dê exemplos. Reproduza, de memória, o quadro dos “níveis de atividade cognitiva” apresentado aqui.

Módulo III:
Qual a teoria mínima de que necessita a Loganálise para construir sua tecnologia de promoção da saúde mental? Qual o formato de uma explicação, segundo Edwards? Defina: axioma, explicação, explanandum, explanans, hipótese, lei, lei empírica, lei experimental, lei teórica, postulado, Dê um exemplo de explicação de lei? Qual, segundo Edwards, o objetivo primeiro de uma ciência que atingiu o nível teórico? Quais são os níveis que compõem o processo de explicação e inferência nesse tipo de ciência? Qual a relação entre explicação e inferência? O que é argumento projetivo-preditivo? Argumento projetivo-retroditivo? Argumento projetivo-simultâneo? O que é Verstehen, segundo os que o defendem como método das ciências humanas? O que é Verstehen segundo a Loganálise? O que, segundo Rudner, é mais grave para uma ciência, a ignorância substantiva ou a metodológica? Qual a definição de teleologia, segundo Ducasse? O que é, segundo a Loganálise, uma explicação compreensiva? Quais seus dois tipos? Qual o grande risco de entendermos o Verstehen como método e, não, como técnica? Qual a classificação das ciências proposta por Dilthey? Qual a crítica da Loganálise a essa classificação? O que é determinismo? Qual a diferença entre o determinismo absoluto e o estatístico e qual a implicação dessas diferenças no que diz respeito à predição? Qual Qual a extensão do pressuposto determinista, do ponto de vista científico? Existe possibilidade de uma fundamentação indutiva para o determinismo? Por quê? E dedutiva? Por quê? E psicológica? Por quê? Defina causa. Qual a relação entre determinismo e causalidade? E entre determinismo e teleologia? Existe incompatibilidade, segundo a Loganálise, entre determinismo e liberdade de arbítrio? Por que a Loganálise, para construir uma tecnologia, tem que ser determinista? O que é Navalha de Occam? A Psicanálise, do ponto de vista da simplicidade, é superior ou inferior às demais teorias psicológicas? Quais são os três critérios básicos de avaliação da qualidade de uma teoria científica? Resuma a metateoria mínima de que se serve a Loganálise.

MÉTODO CIENTÍFICO E LOGANÁLISE: PRIMEIRO MÓDULO

Este curso on-line pretende expor as exigências a que a construção teórica da Loganálise, uma variação teórico-técnica da Psicanálise, se pretende submeter. Entre essas exigências, maior é a de permita “testabilidade intersubjetiva”, processo mediante o qual a comunidade científica e não científica possa validar ou invalidar, segundo determinados critérios consensuados, suas proposições. Para isso, naturalmente, se faz mister que a Loganálise seja clara e inambígua no discurso que emprega para veicular sua produção.
Clareza de discurso é cria de clareza de pensamento, como bem o expressa Boileau

"O que se concebe bem
Se enuncia claramente
E as palavras para dizê-lo
Vêm facilmente."
[1]

E Pessoa:

"Quando é alto e régio o pensamento,
Súdita a frase o busca
E escravo o ritmo o segue."
[2]

Clareza de pensamento, por sua vez, nasce de clareza de propósitos. Para que a clareza de nossos propósitos sustente a clareza de nosso pensamento e esta, a clareza de nosso discurso, iniciaremos essa primeira cadeira de nosso curso de especialização enunciando qual o objetivo último a que serve todo o empreendimento loganalítico. É ele:

Produzir e continuamente aperfeiçoar uma tecnologia * capaz de usar processos de comunicação para promover, profilática e terapeuticamente, a saúde mental humana.

Essa declaração de objetivos merece qualificações. A primeira delas é a de explicitar o que entendemos por tecnologia * e como a diferenciamos de técnica *[3]. Vejamos:
TÉCNICA:
· Lato sensu: Conjunto de procedimentos voltado para a concretização de um fim;
· Stricto sensu: Conjunto de procedimentos, não deduzidos de uma teoria, voltado para a concretização de um fim;

TECNOLOGIA: Conjunto de procedimentos, deduzidos de uma teoria, voltado para a concretização de um fim, exceto o de validar proposições.

Ilustremos o quadro acima. Digamos que uma família de agricultores passe, de pai para filho, há dezenas de anos o que entende como o melhor conjunto de procedimentos para produzir abóboras. Dentre esses procedimentos, estaria, supostamente, o de evitar plantar abóboras no outono, pois a longa experiência dessa família teria comprovado que as plantadas nessa época nascem “aguadas”, leia-se, sem gosto. Ninguém sabe o “porquê” de ser assim, mas todo o agricultor daquela família sabe que assim é, passando a informação para a geração seguinte, que respeitosamente a obedece, não plantando abóboras naquela estação. Frente às definições que vimos de avançar, trata-se, no exemplo, de uma técnica, que é passada, nessa família, de geração à geração, por um mero processo de repetição.

Suponhamos, entretanto, que alguém dessa família avente a hipótese de que, no outono, por essa ou aquela razão, o solo fique com um nível mais baixo de nitrato de prata e que é essa a causa da sensaboria das abóboras plantadas naquela estação. Isso, naturalmente, sugeriria o seguinte procedimento: adubemos o solo com nitrato de prata e poderemos plantar abóboras no outono, colhendo-as com o mesmo sabor das plantadas nas demais estações. Estaríamos, aqui, segundo a terminologia proposta, nos defrontando com uma tecnologia, não, com uma técnica, já que o procedimento em pauta deriva de uma teoria * sobre o que causa o menor sabor das abóboras plantadas no outono.

A ilustração – totalmente fictícia – acima, nos permite avaliar a vantagem da tecnologia sobre a técnica: essa última tende a manter-se inalterada através do tempo, fundamentado-se na tradição, enquanto a primeira, à custa de sua fundamentação teórica, sofre contínuo aperfeiçoamento. As considerações acima, certamente, (a) terão deixado claro porque, quando enunciei o objetivo da produção loganalítica, em vez de empregar o termo técnica, empreguei o termo tecnologia e, possivelmente, (b) terão levantado a suspeita de que, até hoje, dentro da comunidade psicanalítica, a transmissão dos procedimentos que objetivam a cura tem ficado mais no nível da técnica do que no da tecnologia, explicando o pouco progresso sofrido, durante mais de um século, por aqueles procedimentos.

A existência e desenvolvimento de uma tecnologia, portanto, depende da existência de uma teoria e, sem dúvida também, da qualidade dela. Uma melhor teoria produzirá uma tecnologia mais eficaz, uma pior, uma menos eficaz. E como diferençar, no que diz respeito a teorias, o melhor do pior, o falso do verdadeiro? Bem, aqui, voltamo-nos sobre o conceito de método *. Vejamos:

MÉTODO: Conjunto de procedimentos empregado para validar proposições.

MÉTODO CIENTÍFICO: Conjunto de procedimentos que emprega o princípio da não-contradição *, associado ou não a verificações empíricas, para validar proposições.[4]

PRINCÍPIO DE NÃO-CONTRADIÇÃO: Princípio que estabelece que um ente não pode ser e não ser alguma coisa, sob o mesmo aspecto, ao mesmo tempo.

Como se vê, um método é, na verdade, uma técnica, se consideramos o sentido lato dessa última: não passa de um conjunto de procedimentos voltado para a concretização de um fim. Esse fim, todavia, é bastante específico. Por isso, stricto sensu, diferençamos, método de técnica. Qualquer teoria, para ser consensualmente validada, tem que explicitar o conjunto de procedimentos através de que pretende validar suas proposições, ou seja, seu método. Essa técnica de validação de proposições, esse método, entretanto, pode ser ou não científico. Um dos expoentes da história do catolicismo, por exemplo, explicitou da seguinte forma seu critério de validação de proposições: credo quia absurdum. Seja: creio porque é absurdo. Aqui não falta método – e cada um tem lá o que merece! – mas, certamente, tal critério de validação não poderia encontrar abrigo dentro do que tem sido chamado de método científico, já que, como posto, esse último submete-se ao princípio lógico da não-contradição e este, certamente, invalida absurdos.
Voltemos às nossas pretensões. Expusemos como nosso propósito “aperfeiçoarmos uma tecnologia capaz de usar processos de comunicação para promover a saúde mental humana”. Como toda a tecnologia depende de uma teoria, precisamos de uma teoria que nos afirme, no mínimo, algo como – “processos de comunicação de tipo X promovem saúde mental no ser humano” e “processos de comunicação de tipo Y promovem doença mental no ser humano” – para desenvolvermos e aperfeiçoarmos procedimentos que aumentem a presença dos processos de comunicação de tipo X e diminuam a dos de tipo Y. Pois bem, poderemos produzir e, certamente, colher na literatura relevante, dezenas de proposições equivalentes às supra-referidas, mas, qual método escolheremos para considerar tal proposição válida, tal outra inválida?
Passo, em seguida, a delinear as escolhas que feitas pela Loganálise para estabelecer sua Constituição Epistemológica, ou seja, o conjunto de regras a que deve obedecer sua produção teórica para ser consensualmente validada. No vocabulário usual dos filósofos da ciência, o que chamei aqui de Constituição Epistemológica, toma o nome de metateoria *.

METATEORIA: Conjunto de pressupostos, arbitrariamente escolhidos, a que se deve submeter a construção de uma teoria.

Retomemos nosso caminho: buscamos uma teoria que nos diga, no mínimo, algo como – “processos de comunicação de tipo X promovem saúde mental no ser humano” e “processos de comunicação de tipo Y promovem doença mental no ser humano” – para, a partir dela, fundamentar e desenvolver uma tecnologia. Ora, tal tipo de proposições inclui inevitavelmente termos – tais como os de “doença”, “saúde”, “mental”, “humano”, “comunicação”, etc. – cujo emprego pode ser tudo, menos consensual. De que recurso, então, faremos uso para, pelo menos entre nós, gerar tal consenso, até para que, ao divergirmos, sabermos sobre que, que fato, estamos divergindo? Vamos definir o termo, conceituá-lo, denotá-lo, conotá-lo, transmitir operacionalmente ou ad modum ponens seu significado? E, aliás o que significa, exatamente, definir, conceituar, denotar, conotar etc.? Para começar a responder a essas perguntas, refaçamos alguns passos de um caminho que já trilhei anteriormente[5]. O primeiro deles será esclarecer as noções de conotação* e denotação*, o segundo, propor uma hipótese sobre como ocorre a gênese psicológica de um conceito. Para os conceitos de conotação e denotação, acompanhemos Abbagnano:

"La distinción que la lógica moderna de corte tradicional há establecido entre los dos elementos del concepto, se funda en la distinción entre los aspectos del significado. Tales elementos del concepto son denominados algunas veces comprension y extensión; otras, intensión y extension y, otras aún, connotación y denotación. La primera pareja de terminos fue introducida por la Lógica de Port Royal; la segunda por Leibniz; la tercera por Stuart Mill. Este último, propuso restringir el significado de significado a la connotación, denominando la denotación a la referencia objetiva. Decía: "Toda vez que los nombres dados a objetos aportan alguna información, o sea toda vez que ellos, precisamente, tienen un significado, el significado no esta en aquello que denotan sino en lo que connotan. Los únicos nombres de objetos que no connotan nada son los nombres proprios, y estos, hablando com exactitud, no tienen significado"[6]. Lo que Stuart Mill entendia por connotación aparece claro en el siguiente pasaje: "La palabra hombre, por exemplo, denota Pedro, Juana, Juan y un número indefinido de otros individuos, de los cuales, tomados como una clase, tal palabra es el nombre. Pero dicha palabra se les aplica en cuanto poseen, y para significar que poseen, determinados atributos." (Ibid.). Los atributos que constituyen al hombre, esto es, corporeidad, racionalidade, etcétera, por ejemplo, forman, por lo tanto, la connotación del nombre "hombre": lo cual la tradición filosófica se denomina "esencia" o, más tarde, "concepto"."[7]

Em posse de tal diferenciação, façamos algumas considerações sobre a gênese psicológica de um conceito, para, melhor entendendo a natureza desse último, nos voltarmos sobre o problema de sua validação.

"A história de um conceito, a nosso ver, encerra as seguintes etapas:

1. Construção subliminar de uma conotação
2. Delimitação, orientada pela conotação subliminar, dos fenômenos denotados por aquela conotação
3. Exercício de reflexão sobre o universo de fenômenos denotados de forma a explicitar a conotação a eles subjacente
4. Explicitada a conotação, retorno sobre o conjunto denotado com o fito de
4.1. Excluir do conjunto aqueles fenômenos que, na fase (ii), em virtude da natureza subliminar das operações que constituíram o conjunto dos denotados, haviam sido indevidamente nele incluídos
4.2. Incluir no conjunto aqueles fenômenos que, pelas mesmas razões, haviam sido dele indevidamente excluídos"[8]

Dada a importância desse processo, vamos descrevê-lo em outras palavras e, em seguida, ilustrá-lo:
Etapas da formulação de um conceito:
(1) percebo subliminarmente que certos entes têm algo em comum (proto-conotação);
(2) passo a construir uma listagem desses entes (proto-denotação);
(3) observo essa listagem e reflito sobre ela até ser capaz de explicitar qual é aquele “algo” que eles têm em comum (conotação vera);
(4) volto-me sobre listagem para corrigi-la, adequando-a com mais precisão (denotação vera).

Ilustração: digamos que eu comece a construir subliminarmente a conotação do que irei chamar de “esfera” (proto-conotação), selecione uma série de objetos que me parecem merecer ser chamados de “esféricos” (proto-denotação) e, refletindo sobre eles, decida que a melhor descrição da característica que me levou a aproximá-los seria dizer que são “sólidos gerados pela rotação completa de um semi-círculo em torno de seu diâmetro” (conotação vera). Agora, posso voltar-me sobre a listagem que eu havia anteriormente feito para verificar se, de fato, todos os objetos nela incluídos, conformam-se a “conotação” que atribuí ao nome “esfera”. Percebo, então, que, entre esses objetos, eu havia descuidadamente incluído um icosaedro regular – sólido cuja superfície é formada por vinte polígonos regulares e cuja forma se aproxima de uma esfera – verifico que ele não se conforma à conotação que explicitei e, portanto, retiro o icosaedro do universo de objetos que eu havia listado como esféricos, corrigindo minha denotação (denotação vera). (Algum processo dessa ordem ocorreu, por exemplo, quando a OMS retirou a homossexualidade de entre os entes denotados como representativos de “doença mental”).
Posto isso, vejamos, agora, quais os critérios adotados, nesse trabalho, para a validação de conceitos e quais as sugestões propostas sobre como tais critérios. Antes, enriqueçamos nosso Glossário:

DEFINIENDUM: Termo a ser definido.

DEFINIENS: Termo ou termos definidores.

Voltemos à minha tese, onde nos encontraremos de novo com o definiendum “esfera”:

"Grande parte do que faremos nos capítulos seguintes será conceituar, ora com maior, ora com menor nível de precisão. Para fazê-lo tivemos, a cada momento, que optar, que seguir este ou aquele autor, que propor esta ou aquela alteração e, naturalmente, a cada momento, assaltava-nos a dúvida sobre a validade das decisões em curso. Essa dúvida assomou-nos tantas vezes que, por fim, fomos levados a nos indagar sobre os critérios a partir de que deveria realizar-se essa validação. Passamos a sumariar o resultado dessas indagações. Adotamos dois critérios para validar a qualidade de uma definição[9]:

Primeiro critério: conformidade com o uso (comunicabilidade). quando uma definição não preencher esse critério, chamá-la-emos de incorreta. É, pois, incorreta a seguinte definição:

Doença mental (Definiendum *) Þ sólido gerado pela rotação completa de um semicírculo em torno de seu diâmetro (definiens *).

A incorreção, no caso, é óbvia, pois o definiens acima transcrito corresponde tradicionalmente ao definiendum "esfera", que nenhum uso considera sinonímica com o definiendum "doença mental", que, por sua vez, não é vazio de significado. A incorreção de uma definição, entretanto, nem sempre é óbvia e, por vezes, devemos voltar-nos sobre um universo imprecisamente delimitado de elementos que o termo denota, para julgarmos o grau de correção a que a conotação proposta pode aspirar.

Segundo critério: adequação ao fim (conveniência)[10]. quando uma definição não preencher esse critério, chamá-la-emos de inoperante. ... Um exemplo mais rasteiro da não-operatividade de uma definição é a seguinte: para o fim implícito na proposição - "Estou com uma vontade de comer uma bala! Você tem alguma aí para mim?" - é absolutamente inoperante considerar o definiendum "bala" como equivalente ao definiens "projétil com que se carregam armas de fogo".
Expostos os dois critérios de validação de conceitos, logo se apresentam múltiplas questões, p.e.: como conjugar a aplicação desses critérios? A aplicação de um tem precedência sobre a de outro? Aplicado um, o outro não se aplica? Caso se responda afirmativamente a essa última pergunta, qual o critério que nos permite escolher entre os dois critérios? Proponho o seguinte:
O primeiro critério a ser aplicado é o critério da correção. Onde não houver conotação explícita e universal para o definiendum, esse critério é usado apenas para estabelecer limites amplos dentro de que há "correção", não havendo fora deles. Assim, embora a conotação do definiendum "doença mental" não seja universal nem explícita, foi-nos possível perceber a incorreção de equacioná-la à tradicionalmente adscrita ao definiendum "esfera". Passado o critério de correção, aplica-se, a seguir o critério de operatividade. Para isso, é claro, o uso a que pretendemos votar o conceito deve estar explicitado, sendo que, ainda assim, a operatividade dele nem sempre se revela de imediato, sendo, por vezes, necessário operar realmente com ele, para que sua adequação ou não ao fim pretendido seja constatada."[11]

Como afirmei na nota de número 9, há contextos em que vale marcar a diferença – para outros irrelevante – entre “definições conceituais” e “definições não conceituais”. Para que se compreendam as razões dessa afirmação, faz-se mister abordarmos os seguintes definienda: proposições analíticas*, proposições sintéticas *, ciências factuais *, ciências formais * e condição salva veritate*
Ciências formais * são aquelas que, como a Lógica e a Matemática, têm o seu valor de verdade independente de qualquer constatação empírica. Por exemplo, a afirmação Matemática de que a =df 2b torna automaticamente verdadeira a de que b =df a/2 e falsa a de que b =df a/20, sem que para se sustentar isso seja necessária qualquer constatação empírica. As ciências formais, simplesmente, estipulam e fiscalizam o cumprimento do que foi estipulado. Já nas chamadas ciências factuais * a atribuição de verdade ou falsidade de uma proposição passa por outros caminhos. A famosa equação e = mc², pertencente ao domínio da Física, uma ciência factual, não depende apenas de cálculos formais, mas, essencialmente, da obtenção de dados empíricos, para que possa ser confirmada.

Acrescente-se que, em Filosofia da Ciência, as proposições cuja validade depende apenas de obedecerem ou não a certas regras arbitrariamente estabelecidas são freqüentemente chamadas de proposições analiticas *, enquanto as que dependem de consulta ao empírico para a verificação de sua validade tomam o nome de sintéticas *. A equação e = mc² é uma proposição sintética porque foi introduzida com todos os seus termos interpretados, seja, onde temos “e” ,leia-se “energia”, onde, “m”, leia-se “massa”, onde, “c”, leia-se “velocidade da luz”. Essas interpretações dos termos da equação exigem recurso a constatações empíricas para a verificação da verdade ou falsidade da equação. Bastava que um de seus termos não fosse interpretado para que essa equação se transformasse em uma proposição analítica. Se “e”, por exemplo, não tivesse um significado próprio, a proposição “e =df mc²” indicaria apenas que eu estou estipulando que, em minha teoria “e” estará sendo sempre empregado como equivalente a “mc²” e não há nenhuma constatação empírica a ser feita para que se determine a verdade ou falsidade disso. Cabe, apenas, a fiscalização de se essa equivalência estipulada está sendo obedecida nas proposições que compõem a teorização que a pressupõe. Esclarecidos esses termos, podemos entender por que, para podermos considerar um definiendum adequadamente definido, seu definiens, além de satisfazer os dois critérios alinhados em minha tese, deve preencher um outro, mencionado por Rudner[12]: a condição salva veritate.
A condição salva veritate será considerada preenchida se, e somente se, o definiendum em pauta puder ser substituído por seu definiens – e vice-versa – em qualquer declaração, sem que essa declaração tenha alterado seu valor de verdade. Aquele autor dá um exemplo[13] que torna bem clara a condição salva veritate: se o definiens "fêmea do javali" é adequado para o definiendum "gironda", ele deve manter o valor de verdade – ou de falsidade – das frases em que substituir esse último. Assim: "Elefantes se reproduzem cruzando com girondas" é tão falso quanto " Elefantes se reproduzem cruzando com fêmeas do javali" e "Javalis se reproduzem cruzando com girondas" é tão verdadeiro quanto "Javalis se reproduzem cruzando com sua fêmeas". Feitos esses esclarecimentos, podemos entender por que Rudner considera inadequadas expressões como "definição operacional" e "definição ostensiva". Vejamos:

"Incidentalmente, a existência e a irrefutabilidade prima facie da condição salva veritate lançam dúvidas sobre a propriedade com que as chamadas "definições operacionais" e "definições ostensivas" são consideradas definições, de qualquer modo. Parece evidente que os processos designados por essas duas expressões se consideram definições simplesmente porque se trata de processos por meio de que se comunicam os significados de termos. Mas não é preciso refletir muito para se revelar que a comunicação de significado não é uma condição necessária nem, certamente, suficiente, para que alguma coisa atinja a posição de uma definição.
Não é uma condição suficiente porque os significados são transmitidos por uma quantidade imensa de coisas (desde a inclinação de uma sobrancelha até à inclinação da asa de um bombardeio) a que seria absurdo chamar "definições".

Que não é necessário a uma definição transmitir significado é revelado pela existência do grande número de definições na Matemática e na Lógica puramente formais, que não comportam significado e se apresentam, unicamente, para servirem propósitos de conveniência notacional.
A esta luz, "definição operacional" e "definição ostensiva" podem ser reconhecidas como denominações impróprias. A primeira refere-se ao processo de transmissão de significado de um termo mediante a especificação das operações requeridas para comprovar a presença da coisa a que o termo se refere; a segunda refere-se ao processo de transmissão de significado de um termo expondo as coisas a que o termo se refere. Seria mais exato denominar esses processos como "transmissão operacional de significado" e "transmissão de significado por apresentação ostensiva"."[14]

CIÊNCIA FACTUAL: Toda aquela cujas proposições, para serem validadas, devem obedecer a (1) regras formais de construção e derivação e (b) verificações de ordem empírica. Ex.: Física, Química, Biologia, Psicologia.

CIÊNCIA FORMAL: Toda aquela cujas proposições, para serem validadas, devem, apenas, obedecer a regras formais de construção e derivação. Ex.: Lógica, Matemática.

CONDIÇÃO SALVA VERITATE: Exigência de que, para que reconheçamos uma definição * como adequada, a substituição do definiendum por seu definiens e vice-versa não altere o valor de verdade de qualquer proposição em que tal substituição ocorra.

DEFINIÇÃO: Qualquer relação entre dois conjuntos de termos – o definiendum * e o definiens *– que obedeça a condição salva veritate *. Ex.: “a = 2b”, e “clepsidra = relógio de água”.

DEFINIÇÃO OPERACIONAL: Expressão inadequada freqüentemente empregada para significar o que merece mais apropriadamente ser nomeado de transmissão operacional de significado * (Cf.).

DEFINIÇÃO OSTENSIVA (ou AD MODUM PONENS): Expressão inadequada freqüentemente empregada para significar o que merece mais apropriadamente ser nomeado de transmissão ostensiva (ad modum ponens) de significado * (Cf.).

PROPOSIÇÃO ANALÍTICA: Proposições cujo valor de verdade é arbitrariamente estabelecido.

PROPOSIÇÃO SINTÉTICA: Proposições cujo valor de verdade depende de verificação empírica.

TRANSMISSÃO OPERACIONAL DE SIGNIFICADO: Conjunto de instruções que, obedecidas, leva o sujeito a defrontar-se com o(s) objeto(s) referido(s) por um determinado termo. Exemplo: Clepsidra é aquilo com que você se defronta na prateleira do meio da estante do meu quarto.

TRANSMISSÃO OSTENSIVA DE SIGNIFICADO: Transmissão da relação entre um termo e o(s) objeto(s) referido(s) a que ele se refere através do apontamento direto desse(s) objeto(s). Exemplo: Clepsidra é isto (e indico com o dedo).

As considerações acima nos aparelham com um vocabulário mínimo para que possamos enfrentar eficazmente os complexos obstáculos que se opõem à desejável padronização no uso dos termos que compõem uma teoria. Essa aproximação, como nos lembra Rudner, será muitas vezes parcial, gradual e tentativa:

“a especificação de uma condição suficiente para a aplicação de um termo não determina inteiramente o uso desse termo nem lhe dá seu “pleno significado” ... Assim, uma teoria pode compreender a afirmação “Se um organismo tem sangue quente, então, é um animal” e também a afirmação “Se um organismo tem coluna vertebral, então, é um animal”. Cada um desses enunciados determina parcialmente o uso do termo “animal”; num certo sentido, ambos, tomados em conjunto, determinam mais completamento o uso do que cada um per se, mas nenhum deles, separada ou conjuntamente, determina completamente o uso do termo.”[15]

Assim, em vários momentos de nossos futuros trabalhos, teremos que nos contentar com tais “aproximações parciais” do significado desse ou daquele termo. Isso, contudo, não deverá fazer que percamos de vista qual o status conceitual dos vários termos com que estamos operando. Vejamos como esse cuidado está posto em minha já referida tese:

"a construção de um conceito científico de doença mental ocorre na área de intercessão de uma multiplicidade de conceitos ontológicos, epistemológicos, biológicos, neurológicos, psicológicos, sociológicos, políticos, antropológicos, etc., nem sempre – para não dizer quase nunca – investidos de maior clareza. Assim, diante de termos como "númeno", "fenômeno", "determinismo", "teleologia", "explicação", "compreensão", "conceito", "teoria", "significante", "significado", "sistema", "equilíbrio", "homeostase", "desenvolvimento", "integração", "fixação", "regressão", "volição", "cognição", "prazer", etc., vimo-nos defrontados com as seguintes alternativas:

1) Deixar de empregar o conceito
2) Empregá-lo sem defini-lo
3) Empregá-lo adscrevendo-lhe uma definição sucinta
4) Empregá-lo adscrevendo-lhe uma definição algo mais extensa

Assim sendo, para exemplo, sofreram o tratamento (i) os mecanismos de defesa freudianos (repressão, projeção, deslocamento, etc.); o tratamento (ii), os conceitos de significante, significado, integração, etc.; o tratamento (iii) os conceitos de determinismo, de livre arbítrio, de desenvolvimento, etc.; o tratamento (iv) os conceitos de sistema, de equilíbrio, de teleologia, etc. Os critérios de decisão para a distribuição nos diversos tratamentos foram a centralidade do conceito para a teoria e o grau de acordo reinante em relação ao significado do conceito (quanto maior o acordo, menor, é claro, a necessidade de definição explícita). ... os tratamentos (ii) e (iii) permitiram que fossem integrados numa mesma rede teórica uma vasta quantidade de conceitos em nosso ver extremamente relevantes para a conceituação pretendida, o que, fosse exigido o grau (iv) de precisão definitória, seria inexeqüível por falta do tempo e da especialização requeridos. Esforçamo-nos, todavia, para que a margem de imprecisão assumida não prejudicasse a inteligibilidade do todo"[16]

Saber que, muitas vezes, estaremos trabalhando com termos pobremente delimitados, não nos deverá, todavia, fazer esquecer de que, freqüentemente, estaremos trabalhando na direção de construir adequadas definições conceituais[17] para grande parte dos termos que irão compor nossas teorizações.

Terminamos, aqui, nosso primeiro módulo. Até o próximo.

[1] Tradução de uma estrofe em francês que mantenho de memória : "Ce que l'on conçoit bien / S'ennonce clairement / Et les mots pour le dire / Arrivent aisément."
[2] Pessoa, F. Citado de memória.
[3] As palavras que, ao serem aqui introduzidas, o forem em itálico, seguidas de asterisco, encontrar-se-ão definidas em Glossários Parciais e em um Glossário Geral, disponível ao fim deste curso.
[4] Cf. a formulação de Rudner: “O método de uma ciência é, com efeito, o fundamento lógico em que baseia sua aceitação ou rejeição de hipóteses ou teorias.” (Rudner, R. S.. Filosofia da Ciência Social. Rio: Zahar, 1969, p. 19.)
[5] Ebraico, L. C. de M. O Conceito de Doença Mental. 1976. Tese (Mestrado) - PUC, Rio de Janeiro, RJ, 1976. (A época que cursei o Mestrado, ainda se exigiam “teses” para esse nível de graduação. Hoje, a exigência é do que se convencionou chamar “dissertação”, em que o mestrando não precisa defender nenhuma hipótese ou teoria original, bastando que exponha um razoável conhecimento da literatura relativa ao tema que escolheu.)
[6] Poderia ter afirmado: “têm entes referidos, mas não tem significado”.
[7] Abbagnano, N. Diccionario de Filosofia. México: Fondo de Cultura Económica, 1963, p. 1060-1061.
[8] Ebraico, L. C. de M. Op. cit., p. 84-5.
[9] Na verdade, em determinados contextos, é importante deixar explícita a diferença entre “definições conceituais” e “definições não conceituais”. Logo apontaremos essa diferença.
[10] Freud tinha perfeita ciência de que a escolha de um conceito é em grande parte arbitrária, estando subordinada ao tipo de uso que se pretende fazer dele. Ora, frente à ambição de explicar o mais amplamente que possível o humano, a equivalência entre “psíquico” e “consciente” – por deixar de fora do espaço explicativo da Psicologia fenômenos como os sintomas psiconeuróticos, os sonhos e as parapraxes – muito mais do que errada, era inconveniente: “a equivalência convencional entre o psíquico e o consciente é totalmente inconveniente” (“die Konventionelle Gleischstellung des Psychischen mit dem Bewubsten ist durchaus unzweckmäbig”: S. Freud, “Das Unbewubte”, in GW, vol. X, p. 266. A ESB – 1974, vol. 14, p. 193 – traduz o alemão “unzweckmässig” e o inglês “inexpedient” – SE., 1971, vol. 14, p. 167-8 – por “inadequada”, fazendo que se perca a especificidade implicada por “inconveniente”).
[11] Ebraico, L. C. de M.. Op. cit., p. 8-10.
[12] Rudner, R. S. Filosofia da Ciência Social. Rio: Zahar, 1969.
[13] Rudner, R. S. Op. cit., p. 34.
[14] Rudner, R. S. Op. cit., p. 40. Poderíamos ainda mais exigentes e preferir expressões como “transmissão operacional de referência” e “transmissão ostensiva de referência”. Acrescente-se que a chamada “definição ostensiva” também é conhecida como “definição ad modum ponens”.
[15] Rudner, R. S. Filosofia da Ciência Social. Rio: Zahar, 1969, p. 81-2.
[16] Ebraico, L. C. de M. O Conceito de Doença Mental. 1976. Tese (Mestrado) - PUC, Rio de Janeiro, RJ, 1976, p. 5-6.
[17] Permita-me recordar-lhe que definições conceituais são definições interpretadas – como no exemplo em que e = df mc² aparece como uma proposição analítica – e as não conceituais são definições não interpretadas – como quando oferecemos a = df 2b –como exemplo desse mesmo tipo de proposição.

MÉTODO CIENTÍFICO E LOGANÁLISE: SEGUNDO MÓDULO

O lingüístico e o extra-lingüístico (os termos em itálico e seguidos de asterisco têm definição em nosso GLOSSÁRIO)

Tomemos a seguinte definição:

guffaw =df Gelächter

A identidade definitória acima implica que, dentro da teoria que a acolher, um termo pode substituir o outro sem infringir a condição salva veritate. Mas, para quem não tenha um vocabulário relativamente sofisticado do inglês, a que pertence a primeira palavra, ou do alemão, a que pertence a segunda, tal definição não implicará nada mais do que isso: permanecerá como uma proposição que nada designa fora do universo lingüístico. Se, entretanto, para uma platéia que fala português, eu acrescentar –

guffaw =df Gelächter =df gargalhada

– teremos, certamente, nesse momento, ultrapassado os limites de um universo ocupado apenas por símbolos, que eternamente se substituem uns aos outros, sem nada designar para além deles. Teremos passado do universo lingüístico para o extra-lingüístico, passagem a que denominaremos de referência* (A maior parte de nosso encontro anterior foi dedicada a uma análise das várias maneiras através de que se pode fazer essa passagem, cuja natureza, aliás, acabo de assinalar ad modum ponens).

ENTIDADE EXTRA-LINGÜÍSTICA: Entidade referida.

ENTIDADE LINGÜÍSTICA: Entidade referente.

REFERÊNCIA: Ato ou processo de associar um elemento lingüístico a um extra-lingüístico.

O estabelecimento preciso das condições de passagem do lingüístico para o extra-lingüístico é uma característica essencial das ciências factuais. Alinhada entre essas últimas, cumpre à Loganálise explicitar as condições em que pretende fazer tal passagem. E, para isso, precisa responder à seguinte pergunta: em seu salto para extra-lingüístico, quanto desse extra-lingüístico ela pretende abocanhar? Uma primeira aproximação da resposta a essa pergunta seria a seguinte: mais do que pretendem as ciências de inspiração positivista, como o behaviorismo, e menos do que certos departamentos da filosofia, como a ontologia. Passamos, doravante, a detalhar o significado dessa resposta.

As entidades extra-lingüísticas: entes de realidade e entes de razão

Chamemos de entes (ou entidades)de razão* àqueles que, existindo apenas em nossas mentes, não podem ser causa nem efeito diretos de nenhum fenômeno empírico inter-subjetivamente observável. Chamemos de entes (ou entidades)de realidade (ou reais) àqueles que existem fora de nossas mentes, podendo ser causa e/ou efeito de fenômenos empiricamente observáveis.

ENTE (ou ENTIDADE) DE RAZÃO:
1. Todo e qualquer elemento não referido de um discurso;
2. Toda a entidade extra-lingüística * incapaz de manter relações de causa-efeito com dados empíricos inter-subjetivamente observáveis. Cf. Idealização*.

ENTE (ou ENTIDADE) DE REALIDADE (ou REAL): Entidade extra-lingüística capaz de manter relações de causa-efeito com dados empíricos inter-subjetivamente observáveis.

O extra-lingüístico: 1. Idealizações

Entre os entes de razão, interessam-nos particularmente as idealizações*:

IDEALIZAÇÃO: Todo e qualquer ente de razão* entendido em seu sentido (2).

Na medida em que as idealizações não são entes reais, nada que observemos empiricamente pode ser considerado causa ou efeito delas. Ouçamos RUDNER:

“Semanticamente, a característica predominante das idealizações é a de que, literalmente, nada descrevem – não existe entidade, processo ou estado de coisas com que a idealização se situe em relação designativa ou descritiva.” [1] (Evidentemente, onde Rudner fala de “entidade, processo ou estado de coisas”, entenda-se “entidade, processo ou estado de coisas reais”.)

A despeito de nada existir, fora de nossa mente, que corresponda às idealizações, elas, por seu valor heurístico, foram e continuam sendo usadas pala ciência e pelo conhecimento comum, como bem se vê pelos seguintes trechos de CHISHOLM onde as vemos compreendidas sob o título de “contrary-to-fact conditionals”:

“A significant part of our knowledge is usually expressed in subjunctive and “contrary-to-fact” conditional statements. We seem to have knowledge of what might have happened, or what would have happen if certain conditions were realised, or of what tendencies, faculties or potentialities an object could manifest in suitable environments. And this, most of us would be inclined to say, is valid and significant, even though the possible events to which it seem to pertain may never become actual.”[2]

E ainda:

“In general, it may be said that adequate understanding of science and history requires the ability to consider the consequences of hypotheses known to be contrary-to-fact. In the study of anatomy, for instance, it would be difficult to assess the importance of an organ or function unless we were able to conceive what would happen if that organ or function did not exist. In physics it is necessary to be able to conceive of states of affairs which, in all likelihood, will never become actual. Thus Galileo, as is well known, founded his dynamics upon the conception of a body moving without the influence of any external force. Examples of this sort may be readily multiplied.” [3]

Evidentemente, uma das maiores utilidades de uma idealização é permitir, tomada ela como referência, uma classificação dos entes reais. (Veremos como, por exemplo, em posição antípoda à da anti-psiquiatria, defendo, em minha tese, um conceito de saúde mental perfeita – ideal – relativamente a que devem ser ordenados os diversos níveis de doença mental – estes, sim, esmagadoramente reais.) Entretanto, embora as idealizações – termo que empregaremos para nos referir tanto a entes quanto a condições que só existem sob forma de idéia – se multipliquem, tanto nas ciências naturais – cf., p.e., os conceitos de “pêndulo matemático”, “motor sem atrito”, “impacto perfeitamente elástico”, da Física – quanto nas ciências sociais – cf., p. e., os conceitos de “concorrência perfeita”, “indivíduo economicamente racional”, “mercado perfeitamente accessível”, da Economia – seu emprego, extremamente bem sucedido nas primeiras, tem seu valor menos firmemente estabelecido nas últimas.

“Essa diferença na utilidade do emprego das idealizações nas ciências naturais e nas ciências sociais talvez possa ser explicada se empregarmos as expressões de Hempel[4] – “idealizações teóricas” e “idealizações intuitivas” – para diferençar, respectivamente, entre as idealizações que preenchem ou não os seguintes requisitos, arrolados por RUDNER[5]:

1) terem seus termos metricamente definidos;
2) serem matematicamente deduzidos através da atribuição de valores-limites aos termos mencionados em (1);[6]
3) estarem inclusas dentro de um corpo teórico, mais amplo, de maneira que a validação desse último implique a validação indireta da idealização.”[7]

IDEALIZAÇÃO INTUITIVA: Toda e qualquer idealização* que não preencha os requisitos preenchidos pelas idealizações teóricas*.

IDEALIZAÇÃO TEÓRICA: Toda idealização * que preencha os seguintes requisitos:
1. Metrificação de seus termos;
2. Ser matematicamente deduzida através de valores limites atribuídos a esses termos;
3. Estar articulada a um corpo teórico de forma que a confirmação ou desconfirmação deste implique a confirmação ou desconfirmação indireta da idealização.

Embora, como vimos, as ciências chamadas sociais ainda estejam claudicando no que diz respeito à precisão na formulação de suas idealizações, a Loganálise se dispõe a acolher esses entes de razão entre seus referentes extra-lingüísticos, sempre que, como ocorre com o conceito de saúde mental por ela esposado, os considerar instrumentais para seus propósitos. Já entre os entes reais, que passamos a estudar, ela irá, como veremos, deixar fora de suas teorizações o que se convencionou chamar de númeno*, referindo-se apenas às entidades inferidas* e às entidades observacionais*.

O extra-lingüístico: 2. Númenos[8].

Vejamos como encarei a questão dos númenos, em minha tese:

“... ao iniciarmos este trabalho, nossas posições epistemológicas eram inspiradas por autores de índole neopositivista[9], de forma que, juntamente com eles, considerávamos o conjunto de conhecimentos tradicionalmente englobados sob o título de Ontologia um conjunto de pseudo-conhecimentos, constituído por uma série de respostas sem significado atribuídas a uma série de perguntas igualmente sem significado. Uma diversificação da consulta bibliográfica[10], contudo, foi suficiente para alterar esse ponto-de-vista, basicamente no sentido de considerar legítimo o conhecimento que tem por alvo o númeno. O cabimento da postulação de um númeno, que só na filosofia moderna tem farta tradição – cf., p. e., DESCARTES[11], D’ALEMBERT[12], CONDILLAC[13], BONNET[14], MAPERTUIS[15], KANT[16] - fica particularmente evidente através da exposição feita por BERTALANFFY do “enfoque da biologia moderna inaugurada por Jacob von Uexküll sob o nome de Umwelt-Lehre[17]. Segundo esse relato de BERTALANFFY, a proposta de UEXKÜLL[18].

'Consiste essencialmente em afirmar que cada organismo vivo corta uma fatia do grande bolo da realidade, que lhe é possível perceber e à qual pode reagir devido a sua organização psicofísica, isto é, a estrutura dos órgãos receptores e efetores[19]. VON UEXKÜLL e KRISZAT[20] apresentaram fascinantes quadros que mostram como uma mesma seção da natureza é vista por vários animais. “... Tomemos, por exemplo, um carrapato de alcatéia num mato à espera da passagem de um mamífero em cuja pele se instala para beber o sangue. O sinal é o odor de ácido sulfúrico proveniente das glândulas epidérmicas de todos os mamíferos. Seguindo esse estímulo, o carrapato mergulha. Se caí sobre um corpo quente – como se fosse movido por seu agudo sentido térmico – alcançou a presa, um animal de sangue quente e só necessita encontrar, com auxílio do sentido do tato, um lugar livre de pelos para perfurar. Assim, o rico ambiente do carrapato encolhe-se até metamorfosear-se em uma minguada configuração a partir de que brilham, como um farol, apenas três sinais, que são, contudo, suficientes para conduzir seguramente o animal até a sua meta. Ou, então, alguns ouriços-do-mar respondem a qualquer escurecimento batendo juntos seus espinhos. Esta reação é aplicada invariavelmente contra uma nuvem ou um bote que passam ou o inimigo real, um peixe, que se aproxima. Assim, embora o ambiente do ouriço-do-mar contenha muitos objetos diferentes, seu meio só contem uma característica, a saber, a redução da intensidade da luz.' ”[21]

Entenderemos essa mesma realidade que, como nos mostra vividamente UEXKÜLL, atinge fenomenicamente cada espécie de forma diversa, como correspondendo à substância, ao númeno, à coisa em si[22], termos clássicos da filosofia, considerando que tal realidade corresponde aos componentes do nível ontológico de nossa atividade cognitiva.”[23]

Hoje, diferentemente do que fazem os positivistas, não considero esses termos – objeto principal de referência da Ontologia, uma variação da Metafísica, ramo da Filosofia – como vazios de significado, mas sim, como um ponto-de-fuga de nossas abstrações sobre a totalidade do mundo fenômenico. A Ontologia, com efeito, “estudia los caracteres fundamentales del ser, los caracteres que todo ser tiene y no puede dejar de tener”[24]. Os termos da ciências factuais, jamais tem por referência o(s) númeno(s) porque, a existência desse(s), embora, como vimos, seja uma exigência racional para dar coerência ao nosso pensamento sobre o mundo fenômenico como um todo, em nada nos assiste para dar conta das transformações que ocorrem nas porções bastante limitadas desse todo de que cada uma daquelas ciências se ocupa.

O extra-lingüístico: 3. Entidades inferidas e Entidades observacionais.

Eliminado o númeno, enquanto referentes extra-lingüísticos das ciências factuais, e, portanto, da Loganálise, resta-nos considerar mais duas categorias de entidades reais, e decidir quais, dentre elas, vamos acolher em nossas teorizações. Tais entidades já foram tão diversamente nomeadas na história da ciência – já foram chamadas de “construtos”, “construções”, “construtos hipotéticos”, “entidades inferidas”, “variáveis intervenientes”, etc.,[25] – que, para nosso uso, proponho deixarmos de lado essa salada terminológica, e, tendo tomado nota de que ela existe, nos restrinjamos ao emprego das expressões entidades observacionais* e entidades inferidas*, que passo a esclarecer.
O que chamaremos de entidades observacionais é o que RUSSELL definiu como “nothing but a certain grouping of certain sensibilia”[26]: nada mais do que um certo agrupamento de certos dados sensoriais. É evidente que, em nosso trabalho clínico, estaremos freqüentemente trabalhando com entidades observacionais, como, por exemplo, distúrbios de motilidade. O que acontece, entretanto, se, diante de um determinado distúrbio de motilidade, afirmamos ser ele uma conversão*? Antes de mais nada, em termos de linguagem, estaremos sendo bastante frouxos (não obstante, caso cientes disso, tal frouxidão possa ser desculpável, por razões de economia). Dentro de um linguajar preciso, um distúrbio de motilidade jamais poderia ser uma conversão. Qualquer pessoa minimamente versada na teoria psicanalítica sabe que, isto sim, que um distúrbio de motilidade pode ser um dos elementos diretamente observáveis de um processo mais amplo, que abrange vários elementos inobserváveis – supostos deslocamentos de energia dentro de subsistemas de um igualmente suposto aparelho psíquico. Esses elementos não observáveis – entidades inferidas – se encadeiam de forma ter entre seus efeitos observáveis – entidades observacionais – o referido distúrbio de motilidade. A relação entre entidades inferidas e entidades observacionais é feita pelo que podemos chamar de regras de correspondência*. Por exemplo, a proposição “Se há um sintoma conversivo, há recalque” é uma regra de correspondência.

Assim, temos:

ENTIDADE INFERIDA: Entidade extra-lingüística real * que mantém relações explícitas com entidades observacionais* segundo o determinado por uma ou mais regras de correspondência*.

ENTIDADE OBSERVACIONAL: Entidade extra-lingüística real* composta por, e apenas por, um deteminado conjunto arbitrariamente selecionado de dados observáveis.

NÚMENO: Entidade extra-lingüística real* que não mantém relações explícitas com entidades observacionais* segundo o determinado por uma ou mais regras de correspondência*.

REGRA DE CORRESPONDÊNCIA: Qualquer proposição que estipule condições de relação entre, por um lado, uma ou mais entidades inferidas* e, por outro, uma ou mais entidades observacionais*.

Há um grupo de pensadores – por vezes chamados de positivistas e que, suponho, estão em via de provável extinção – que sustentam não deverem as ciências trabalhar senão com entidades observacionais, confundindo númenos, que não se fazem acompanhar de regras de correspondência que os relacionem com elementos específicos do mundo empírico, com entidades inferidas, que se fazem acompanhar delas, e considerando, por isso, esses dois últimos tipos de entidades reais como “metafísicas” e, portanto, pertencentes ao domínio da filosofia. O behaviorismo – que, desde algumas décadas, de forma sub-reptícia e algo envergonhada, tenta, para sobreviver como ciência, escapar da camisa-de-força positivista que inicialmente adotou – é um exemplo dessa naïveté metodológica, que já chegou – pasmemos! – a ser sustentada por pensadores do calibre de um BERTRAND RUSSELL[27] e que, aplicada a contento, nos levaria a conclusão de que um surdo de nascença, caso não fosse também cego, poderia pretender estudar cientificamente a luz, fazendo física[28], mas, ao estudar o som, deveria contentar-se com fazer filosofia, pois estaria trilhando dimensões metafísicas! Por sua vez, o cego de nascença que não fosse surdo, ficaria na posição inversa: poderia estudar o som como cientista, mas quando estudasse a luz estaria necessariamente sendo um filósofo! E mesmo uma pessoa com audição normal estaria deixando de fazer Física para fazer Metafísica, quando, ao estudar o som, deixasse os limites em que ele é acessível ao ouvido humano para enfocá-lo em níveis só accessíveis a certos animais. Muita bobagem, não? Teriam sido os positivistas que levaram NÉLSON RODRIGUES a cunhar a expressão “idiotas da objetividade”?! À parte o reductio ad absurdum de que podem ser alvo, do ponto de vista lógico, as criticas positivistas ao emprego de entidades inferidas no âmbito da ciência, do ponto de vista pragmático, o recurso a essas últimas potencializa o poder preditivo de uma teoria de uma forma que, mostra a experiência e sugere a razão, o mero recurso a entidades observacionais não é capaz de fazer.

“(the) inferred element which Russell is so anxious to avoid is precisely the factor that must be added to every construct to give it predictive value.”[29]

Com efeito, se, frente a suas próprias características e a outros dados do contexto que ocorre, interpreto um distúrbio motor – entidade observacional – como eqüivalendo a um sintoma conversivo – entidade observacional explicada por uma determinada teoria, a Psicanálise – eu passo automaticamente a encarar tal distúrbio como efeito de um processo de recalque – entidade inferida! – ou seja, de insuficiente investimento energético – entidade inferida! – em um determinado conjunto de representações de palavra – entidade inferida! – e de excessivo investimento energético no correspondente conjunto de representações de coisa – entidade inferida! Tal entendimento, por sua vez, via regras de correspondência, leva-me imediatamente fazer novas previsões sobre o empírico – bloqueios da verbalização, presença de indicadores de fratura, de indicadores de fixação, de transferência, de meta-transfêrencia, de disforias, de deficits de racionalidade e de arbítrio, etc. – cuja correção ou não deverá ser verificada, numa eterna e extremamente fecunda dialética entre o não-observável e o observável.
Antes de encerramos este item de nossa exposição, note-se que o status de observacional ou inferida que atribuímos a uma determinada entidade depende das circunstâncias em que estamos inseridos. Se um neurologista, em seu consultório, verifica em seu paciente a presença de uma hemianópsia bilateral e atribui tal fenômeno a uma lesão no quiasma ótico, tal lesão, naquele momento, tem o status de entidade inferida, mas um status instável, que pode ser alterado durante uma cirurgia, uma autópsia, ou a qualquer outro tipo de sofisticado exame não invasivo. Já os íons de hidrogênio que podemos inferir presentes em uma substância através da leitura de um medidor de pH tem um status mais estável de entidade inferida. Não tenho notícia de que se haja inventado nenhum recurso tecnológico capaz de transformar íons em entidades observáveis. Daí, inclusive, a recomendação de BECK:

“in view of the fact that the inferred entity may later be observed, we prefer that the internal organization of the inferred entity be analogous to something in the world of direct experience.”[30]

Não nos esqueçamos que, durante milênios, para a humanidade, a outra face da lua não foi mais do que uma entidade inferida...

Os níveis de atividade cognitiva

Resumamos o que foi dito até aqui, no seguinte quadro, que sumariza os níveis de atividade cognitiva:

A. NÍVEL LINGUÍSTICO: símbolos

B. NÍVEL EXTRA-LINGUÍSTICO:

2.1.1. Nível Científico-Factual:
2.1.1.1. Entes reais:
2.1.1.1.1. Entidades observacionais
2.1.1.1.2. Entidades inferidas

2.1.1.2. Entes de razão: idealizações.

2.1.2. Nível Metafísico:
2.1.2.1. Entes reais: númenos
2.1.2.1. Entes de razão: idealizações

Ficamos por aqui. Encontramo-nos no próximo – e último – módulo.

[1] Rudner, R. S. op. cit., p. 90.
[2] Chisholm, R. M. “The Contrary-to-Fact Conditional”, in: Feigl, H. & Sellars, W. (Eds.). Readings in Philosophical Analysis. New York: Appleton-Century-Crofts, 194, p. 482.
[3] Ibid., p. 483.
[4] Hempel, C. “Problems of Concept Formation in the Social Sciences”, in: Science, Language, and Human Rights. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1952.
[5] Rudner, R. S.. Op. cit., p. 94-95.
[6] Por exemplo, a construção do conceito de “gás ideal” através da atribuição do valor zero ao volume e à atração gravitacional de suas partículas materiais, consideradas puntiformes.
[7] Ebraico, L. C. de M. Op. cit, p. 39-40.
[8] A notação “o(s) númeno(s)” deve-se à polêmica de se pode haver ou não mais de um ente dessa natureza.
[9] Notadamente: Carnap, R. “Logical Foundations of the Unity of Science”, in: Feigl, H. & Sellars, W. (Eds.). Readings in Philosophical Analysis. New York: Appleton-Century-Crofts, 1949; Feigl, H. “The Mind-Body Problem in the Development of Logical Empiricism”, in: Feigl, H. & Brodbeck, M. (Eds.). Readings in Philosophical of Science. New York: Appleton-Century-Crofts, 1953; Hempel, C. G. “The Logical Analysis of Psychology”, in: Feigl, H. & Sellars, W. (Eds.), op. cit; Lewis, C. I. “Some Logical Considerations concerning the Mental”, ibid.; Ayer, A. S. Logical Positivism. New York: Free Press, 1959; Abril Cultural (Ed.) Os Pensadores, cap. 67: “Carnap, Schlick, Popper”. São Paulo: Abril, 1974;
[10] Abbagnano, N. Op. cit., passim; Bunge, M. Metascientific Queries. Springfield: Charles Thomas, 1959; Benjamin, A. C. Operationism. Springfield: Charles Thomas, 1955; Bertalanffy, L. von Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973; Edwards, P. The Encyclopaedia of Philosophy (8 vols.). New York: MacMillan, 1967, passim; Feigl, H. “Mind-Body Problem, not a Pseudo-Problem”, in: Hook, S. (Ed.) Dimensions of the Mind. New York: New York University Press, 1960; Harré, R. The Philosophies of Science. London: Oxford University Press, 1972; Köhler, W. “The Mind-Body Problem”, in: Hook, S. (Ed.), op. cit. ; Pepper, S. C. “A Neural-Identity Theory of Mind”, in: Hook, S. (Ed.), op. cit.; Sprague, E. “The Mind-Brain Problem”, in: Hook, S. (Ed.), op. cit. ; Ullmo, J. La Pensée Scientifique Moderne. Paris: Flammarion, 1969.
[11] Descartes, R. Princípios de Filosofia (II, 3), cit. in: Abbagnano, op. cit., p. 249.
[12] Alembert, J. le R. D’. Eléments de Philosophie, parágrafo 19, cit. in: Abbagnano, op. cit., ibid..
[13] Condillac, E. B. Logique, apartado 5, cit. in: Abbagnano, op. cit., ibid..
[14] Bonnet, C. Essai Analytique, parágrafo 242, cit. in: Abbagnano, op. cit., ibid..
[15] Mapertuis, ... . Lettres (IV), cit. in: Abbagnano, op. cit., ibid..
[16] Kant, L. Crítica da Razão Pura (Analítica dos Princípios, cap. III), cit. in: Abbagnano, op. cit., ibid..
[17] Bertalanffy, L. von. Op. cit., p. 302.
[18] Uexküll, J. von. Umwelt und Innenwelt der Tiere. Berlin: Springer,1920; Id., Teoretische Biologie. Berlin: Springer,1929; Uexküll, J. von & Kriszat, G. Umwelt und Innenwelt der Tiere. Berlin: Springer,1934.
[19] Essa dependência do percebido em relação à estrutura cognitiva do percebedor é igualmente enfatizada por Bunge: “This is partly due to our psychophysical organisation: name that we have neither receptors for every one of the impulses impinging upon us, nor effectors for every one of the sensations, images, ideas, etc., that originate in us.” Bunge, M., op. cit., p. 118.
[20] Uexküll, J. von & Kriszat, G. , op. cit..
[21] Uexküll, J. von. Umwelt und Innenwelt der Tiere. Berlin: Springer,1920, in: Bertalanffy, L. von. Op. cit., p. 302-304). É curiosíssima, nessa transcrição, a oposição proposta entre “ambiente” e “meio”, sugerindo que o primeiro se refere a todo o real e o segundo, à fatia desse a que o ouriço tem acesso perceptual. Não tive acesso ao original. Vissicitudes da tradução?
[22] Os termos “númeno”, “substância” e “coisa-em-si”, estão, aqui, sendo usados sinonimicamente.
[23] Ebraico, L. C. de M. Op. cit., p. 12-14.
[24] Abbagnano, N. Op. cit., p. 795 (grifo meu)
[25] Cf., p.e., Beck, L. W. “Constructions and Inferred Entities” e MacCorquodale, K & Meehl, P. E. “Hypothetical Constructs and Intervening Variables”, in: Feigl, H. & Brodbeck, M (Eds), op. cit..
[26] Russell, B. Mysticism and Logic, cit. In: Beck, L. W., op. cit., p. 370.
[27] Cf. Benjamin, A. C. “Science and Vagueness”, in Beck, L. W., op. cit., p. 374.
[28] Assim mesmo, naturalmente, física medieval, não contemporânea...
[29] Benjamin, A. C., ibid.
[30] Beck, L. W.. Op. cit., p. 377.